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sexta-feira, dezembro 18, 2015

Chapter 1: Manhattan Eyes

Era exatamente meia noite e eu sabia que iria ter de acordar para comparecer a festa daquele meu amigo que logo eu saberia que não estaria aqui por alguns meses. Levantei desnorteada, procurando o botão para acender a luz daquele meu quarto já bastante bagunçado - eu não tenho costume de arrumar minha cama -. Saí quase tropeçando ao chão e fui procurar uma roupa descente para que eu pudesse colocar depois do banho gelado que eu tomasse, afinal, eu tinha trabalhado o dia todo na confeitaria predileta do meu amigo, e ficava fácil conversar com ele.
Arrastei-me até o banheiro e meu celular vibrou com uma mensagem em que dizia: "Não se atrase, chegue logo, já estou com saudades". Muitas vezes eu achava que ele mentia quando dizia que sentia minha falta, mas na verdade, no fundo eu sabia que ele gostava bastante de mim e que nossa amizade era extremamente unha e carne. Liguei aquele chuveiro, prendi meu cabelo e fui atrás de enfrentar cada corrente exposta naquele instrumento maluco. Gritei duas vezes, afinal é quase que enfiar uma pessoa dentro de uma banheira já com água gelada e com cubos de gelo extra para deixar você sofrendo um pouco mais.
Meu celular começava a vibrar e era um número desconhecido. Ao invés de atender porque eu sabia exatamente quem poderia ser, eu deixei a ligação cair e ir direto para a caixa postal, já que eu não estava com paciência alguma de tentar entender qual a explicação dele da noite. Me troquei da forma mais graciosa possível em um vestido vermelho para combinar com meus longos cabelos negros, coloquei uma bela maquiagem, uma jaqueta e meu chapéu favorito e logo fui eu descendo as escadas de meu apartamento em Manhattan, esperando para que aquela noite fosse sensacional.
Caminhei por cada quarteirão como se fosse uma vida minha perdida em cada uma delas, dramático, mas nem tanto, eu tinha um pouco de medo do local onde eu morava, mas se fosse para mudar de estado ou país, teriam de explodir Manhattan antes. Foi entre alguns pensamentos como esse que eu trombei justamente com o azar da minha vida e que foi ele. Belo par de olhos castanhos, parecia meio nerd com um estilo meio largado. Ele estava com uma caixa de cerveja na mão direita e só não fizemos um strike ali porque literalmente ele tinha capacidade de segurar tudo aquilo.
Sorri a ele e logo em seguida ele sorriu de volta. Pedimos desculpa como todo bom cidadão faz e seguimos nossa vida. Parecia algo comum, mas não, eu queria dobrar a esquina só para encontrá-lo novamente e dizer que era destino do acaso termos nos encontrado, mas ao invés de mentir para mim mesma, me iludir e achar que isso daria certo, eu simplesmente caminhei e fui até a festa da noite.
Depois de boas doses de tequila, algumas cervejas, energéticos porque sim, eu voltei para casa um pouco desnorteada, mas ainda sabia o que era direita e esquerda... Ou será que minha casa ficava depois do parque? Ainda que pudesse soar loucura, consegui ir para minha casa e acordar com a cara pintada e eu toda desmantelada com um lençol cobrindo meu corpo ainda com aquele vestido vermelho. Eu sabia que não tinha morrido, mas eu morreria se não fosse tomar o meu café da manhã na confeitaria em que trabalho, mas sabia que estava de folga. É que eu não pago, mas ainda que estivesse cedo, eu iria.
Tomei um bom banho para despertar e fui correndo para a confeitaria. Eu só rezava para chegar perto do meu cupcake de coco e tomar boas doses de café, até porque minha ressaca estava me apertando cada vez mais. Cheguei o mais rápido possível e Lola estava a minha espera com 6 cupcakes para mim - eu sei, é coisa de gente gorda, mas eu sou assim, 99% magra mas aquele 1% que ataca a geladeira, no caso a confeitaria - e com um copo grande de café. Eu preferia caneca, mas eu não vou tomar nela hoje. Eu iria sentar no meu cantinho quando alguém já estava nele.
Revirei os olhos e como eu nunca havia sido educada, pedi para que ele pudesse se retirar. Era um ele. Não era um ET, era apenas um ele e o ele era o cara de ontem a noite. Demos os mesmos sorrisos e me sentei de frente para ele. Boas risadas, boas conversas. Ele fez administração, eu fazia cinema, sempre fui apaixonada por escrever roteiros e criar imagens lindas. Ele era meio nerd, eu era meio retardada. Era pra ter sido tudo errado mas foi tudo muito certo.
Foi no meio daquela conversa a partir das 08 da manhã que fomos até quase 12 horas. Eu poderia almoçar cupcakes, mas eu tinha que arrumar minha casa que não estava nada bonita. Virei as costas e antes que eu pudesse virar para encará-lo no lado oposto ele me disse algo que eu nunca mais esqueceria na vida "acho que deveria tentar algo novo que nunca tentou na vida". Voltei para casa pensando nisso e quando percebi aquilo que não era pra dar certo, deu certo até agora. Ele entra e sai da minha casa todos os dias, mas quem sabe eu efetive aquela noite de Manhattan com um reencontro e algumas cervejas na rua, só para lembrarmos que aquele não era nosso momento, mas hoje é.

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